sábado, 26 de abril de 2014

Poemas de Abril

Natália Correia

SONETO DE ABRIL
Evoé! de pâmpano os soldados 
rompem do tempo em que Evoé! a terra
salvé rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.
Na écloga dos rostos despontados 
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados 
mudam-se as casas para a primavera.
Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril 
maravilha da Pátria ressurrecta.
Evoé! evoé! Tágides minhas
outras vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.
(Inédito)

PoemAbril
Antologia de autores organizada por
Carlos Loures e Manuel Simões
Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra, CRL.
Coimbra, 1994


Sérgio Godinho

0 DIA INCOMUM DE UM EXILADO
VIVENDO ENTÃO EM VANCOUVER
Era muito longe, ou seja
no Pacífico
Notícias de jornal, confusas:
tanques ocupam a praça central
de Lisboa
Digo-me: mal eles sabem que se chama
Rossio mas digo-me também: se é a revolução
daquele do monóculo
pouco tenho a esperar
Depois espanto-me: como é possível
que libertem assim
sem mais nem menos
os presos políticos
e prometam a autodeterminação
de colónias economicamente tão preciosas?
0 povo saiu à rua e foi isso
que mudou tudo, explicam-me então
pelo telefone.
No dia em que abalei
para aqui ficar 
deixei sem remorsos:
a minha horta 
cujos legumes tantas vezes protegi
um trabalho que tanto suspeitava amar
e os amigos que, querendo ser generosos, 
me disseram:
«Vai, vais ver que não te arrependes»
Esquece-se muita coisa...
a força de ver caras novas
não sei se me lembro das antigas 
embora as veja tão bonitas
e disponíveis
na memória
e por vezes em fotografia.
(Inédito)

PoemAbril
Antologia de autores organizada por
Carlos Loures e Manuel Simões
Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra, CRL.
Coimbra, 1994

Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
Com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
Na esperança de um só dia.

Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias.
Foi a vida (foram vidas). Foi a História (foram histórias)
Mil encontros despedidas. Foram vidas (foi a vida)
Por um só dia vivida.

Foi o tempo que passava como nunca se passasse.
E uma flauta que cantava como se a noite rasgasse
Toda a vida e uma palavra: liberdade que vivia
Na esperança de um só dia.

Musa minha vem dizer o que nunca então disse
Esse morrer de viver por um dia em que se visse
um só dia e então morrer. Musa minha que tecias
um só dia dos teus dias.

Vem dizer o puro exemplo dos que nunca se cansaram
musa minha onde contemplo os dias que se passaram
sem nunca passar o tempo. Nesse tempo em que daria
a vida por um só dia.

Já muitas águas correram já muitos rios secaram
batalhas que se perderam batalhas que se ganharam.
Só os dias morreram em que era tão curta a vida
Por um só dia vivida.

E as quatros estações rolaram com seus ritmos e seus ritos.
Ventos do Norte levaram festas jogos brincos ditos.
E as chamas não se apagaram. Que na ideia a lenha ardia
Toda a vida por um dia.

Fogos-fátuos cinza fria. Musa minha que cantavas
A canção que se vestia com bandeiras nas palavras:
Armas que o tempo tecia. Minha vida toda a vida
Por um só dia vivida.

Manuel Alegre


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Os 40 anos do 25 de Abril de 1974 na Biblioteca Municipal



Mostra documental “Canções de Abril"
A Biblioteca Municipal recorda alguns dos autores e canções que ajudaram a construir o espírito de abril e constituem páginas da história contemporânea do nosso país, numa mostra documental – patente até 3 de maio – que assinala os 40 anos do 25 de Abril de 1974.  

Mostra documental dedicada a Cristina Torres
O Arquivo Histórico Municipal participa nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril de 1974 com uma mostra documental – patente até 7 de maio – dedicada a Cristina Torres (21/03/1891 - 01/04/1975).
Mulher simples e voluntariosa, obreira de uma persistente atividade pedagógica e política, dirigida aos desfavorecidos, ao operariado e às mulheres. Cristina Torres acabou por ser vítima da sua corajosa oposição ao salazarismo e ao Estado Novo,  saudando assim com grande emoção e alegria a chegada do 25 de Abril de 1974, tendo a felicidade de, pela segunda vez na sua vida, festejar nas ruas da Figueira da Foz a mudança de regime político; 64 anos depois de se empenhar no triunfo da República, era a vez de assistir ao início da Democracia, pela qual tanto tinha lutado.
Ofereceu o seu espólio, constituído por correspondência, discursos, panfletos, documentos biográficos, fotografias, etc., à Biblioteca e Museu, e é parte desse espólio, hoje sob a alçada do Arquivo Histórico Municipal, que irá estar patente nesta pequena mostra.


Respirar Abril - 40 anos


Os cartazes, os livros e os jornais que celebram o 25 de Abril de 1974




















sexta-feira, 4 de abril de 2014

VII Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura nos dias 3 e 4 de Abril


Decorreu ontem e hoje num auditório da Fundação Calouste Gulbenkian,em Lisboa, a VII Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura, cujo tema central foi "Ciências da Leitura - Leituras da Ciência", e que contou com a participação de numerosos especialistas.
Leia aqui o programa.

Sugestões de leitura para os mais pequeninos



Desfolha aqui o livro de Francisco Duarte Mangas "A Menina".








quarta-feira, 2 de abril de 2014

2 de Abril, Dia Internacional do Livro Infantil




O dia 2 de abril assinala-se em todo o mundo. Os livros para crianças são, nesta data, os grandes homenageados.
No dia 2 de abril comemora-se em todo o mundo o nascimento de Hans Christian Andersen. A partir de 1967, o dia 2 passou a ser designado por Dia Internacional do Livro Infantil, chamando-se a atenção para a importância da leitura e para o papel fundamental dos livros para a infância.

Para assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil 2014, a DGLAB convidou a ilustradora Ana Biscaia, vencedora do Prémio Nacional de Ilustração do ano passado, para ser a autora da imagem do cartaz. Tal como tem sido habitual, o cartaz impresso foi distribuído pelas Bibliotecas Municipais e por algumas livrarias de literatura infantil.



CARTA ÀS CRIANÇAS DE TODO O MUNDO - Dia Internacional do Livro Infantil

 Os leitores perguntam muitas vezes aos escritores como é que escrevem as suas
histórias – de onde vêm as ideias? Da minha imaginação, responde o escritor. Ah, sim,
dizem os leitores. Mas onde fica a imaginação, de que é que ela é feita, e será que
todos temos uma?

Bem, diz o escritor, fica na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e
memórias e vestígios de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias
e pensamentos e rostos e monstros e formas e palavras e movimentos e palavras e
ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e ritmos
e pequenos cliques e flashes e sabores e explosões de energia e enigmas e brisas e
palavras. E fica tudo a girar lá dentro e a cantar e a parecer um caleidoscópio e a
flutuar e a pousar e a pensar e a arranhar a cabeça.

Claro que todos temos uma imaginação: se assim não fosse, não seríamos capazes de
sonhar. Contudo, nem todas as imaginações são feitas das mesmas coisas. A
imaginação dos cozinheiros tem sobretudo paladares, e a dos artistas mais cores e
formas. Mas a imaginação dos escritores está cheia de palavras.

E nos leitores e ouvintes das histórias, as imaginações fazem-se com palavras
também. A imaginação do escritor trabalha e gira e molda ideias e sons e vozes e
personagens e acontecimentos numa história, e a história é apenas feita de palavras,
batalhões de rabiscos que marcham ao longo das páginas. E depois chega o leitor e os
rabiscos ganham vida. Ficam na página, parecem ainda rabiscos, mas também
brincam na imaginação do leitor, e o leitor começa igualmente a desenhar e a rodar
as palavras de modo a que a história se crie agora na sua cabeça, tal como tinha
acontecido na cabeça do escritor.

É por isso que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Há apenas
um escritor para cada história, mas há centenas ou milhares ou mesmo milhões de
leitores, na própria língua do escritor ou traduzida para muitas línguas. Sem o
escritor, a história nunca teria nascido; mas sem os milhares de leitores em todo o
mundo, a história não viveria todas as vidas que pode viver.

Cada leitor de uma história tem alguma coisa em comum com os outros leitores da
mesma história. Separadamente, mas também em conjunto, eles recriam a história
do escritor com a sua própria imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e
público, individual e coletivo, íntimo e internacional. Isto deve ser o aquilo que o ser
humano faz melhor.

Continua a ler!


Siobhán Parkinson
Autora, editora, tradutora e distinguida com o Laureate na nÓg (Children’s Laureate

of Ireland).