terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ler Mais, Ler Melhor - Todas as Palavras, poesia reunida de Manuel António Pina


Homenagem a Manuel António Pina - 1943 - 2012

Homenagem de Francisco José Viegas a Manuel António Pina




            As nossas lágrimas folheiam os teus livros de Francisco José Viegas
           A poesia, meu querido Pina, ao contrário do que um dia a tua ironia deixou escrito num dos teus poemas mais perfeitos, não vai acabar. Vai continuar a ser aquilo que foi a tua vida: a celebração de uma beleza rara e inóspita, inacessível a todos os aborrecidos que nunca nos vencerão, que nunca te venceram. Nunca te esqueceremos. Plantaremos uma árvore em teu nome. Diremos um poema em teu nome. Daremos estes dias em teu nome. Celebraremos o que nunca vamos esquecer: o teu coração dedicado à poesia, aquilo que nunca se pode dizer, de tão frágil e mudo que é. “Farewell Happy Fields”. Neste momento, nenhuma palavra que dissermos vale a pena. Temos apenas as tuas. Os teus versos, a tua beleza incandescente, irónica, suave, amorosa. O resto são as nossas lágrimas, que folheiam os teus livros, a nossa grande necessidade dos teus livros e de tantos versos que decorámos para que a vida tivesse um sentido e acaba por não ter. Escreveste “estávamos a precisar de solidão, / de silêncio, de geometria/ e as nossas lágrimas de uma grande razão.”

Fico tão só, fico tão triste, fico tão abandonado, ficamos tão abandonados, ficamos tão sós. Mas em tudo o que escreveste fica a grandeza da nossa língua e a beleza rara e difícil das coisas a que nunca deste um nome. Contigo aprendemos quase tudo sobre a grande arte. Aprendemos a medida do verso e a necessidade de nunca deixar de rir. Aprendemos que nunca é tarde, afinal; que nunca deixarás de regressar às nossas estantes, ao nosso coração, à leveza que nos mostraste, ao caminho no meio das florestas. Aprendemos a esperar. Aprendemos a olhar. Aprendemos a ver em ti uma honestidade belíssima e inimitável. Aprendemos que somos aprendizes da tua capacidade de verificar a beleza das coisas e dos seus mistérios e que, às vezes, eles se reduzem a um verso que se aproxima tão perto da beleza – que queima, que nos deixa em transe sobre a terra, que fica gravado em qualquer lado do nosso desespero, agora que partiste. Deixando-nos tão sós, tão sós, tão perdidos, tão perplexos, meu amigo.
                                                                                                      Francisco José Viegas
                                                                                            Secretário de Estado da Cultura

Texto publicado no Jornal de Notícias no dia 12 de Outubro de 2012.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Mês Internacional da Biblioteca Escolar


Aos colegas do 1º ciclo e aos educadores de infância

 No mês de Outubro, celebra-se o Mês Internacional da Biblioteca Escolar, este ano subordinado ao tema “Uma Chave para o passado, presente e futuro”. Um tema que nos faz perceber o significado da biblioteca na escola. Os livros e os recursos que faculta aos leitores e utilizadores permitem um melhor conhecimento do que nos define como povo, habilita-nos para um diálogo mais próximo com o mundo atual e aposta na nossa formação para o futuro.

A equipa da biblioteca da escola, mais uma vez, em parceria com os educadores de infância, os professores do 1º ciclo, os professores de português e os diretores de turma, aderiu à celebração desta efeméride com uma mão cheia de iniciativas, em que a leitura e a escrita são protagonistas. Mas para que ganhem a importância merecida, necessitam da colaboração de todos.

Desta forma, apelamos:
. à  colaboração no concurso de escrita criativa “Uma História a quatro mãos”, uma iniciativa concelhia de escrita criativa e colaborativa que arranca dia 22 de Outubro,  dia da Biblioteca Escolar, e que percorrerá todas as escolas do concelho, para que todos os alunos do 4º ano possam colaborar na construção de uma história partilhada. Para isso, as escolas interessadas deverão inscrever-se até às 10 horas de 22 de outubro, via correio eletrónico para natercia.simoes@cm-figfoz.pt, indicando obrigatoriamente o nome e o contato do responsável pela turma participante.

As inscrições remetidas fora do prazo e as que não cumpram os pressupostos acima mencionados poderão vir a ser consideradas, após análise, caso a caso.

. à colaboração no concurso de desenho “ A Biblioteca da Minha Escola”, dirigida aos alunos dos jardins de infância e 1º ciclo. A representação gráfica da forma como veem a biblioteca da escola  reforça os laços afetivos com o universo dos livros e da leitura.

. à colaboração nas sessões de leitura em torno dos livros selecionados para a itinerância de leitura neste mês em que a biblioteca assume maior destaque.

. à colaboração na tournée de leitura pelo editor da Bruáa, Miguel Gouveia, a partir do livro “ O tigre na rua e outros poemas”.

.à divulgação, junto dos alunos e encarregados de educação, dos recursos digitais do blogue da biblioteca escolar

 Juntos faremos a leitura acontecer.

A professora bibliotecária

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Os Ciganos, um conto de Sophia de Mello Breyner


Era uma vez uma casa muito arrumada onde morava um rapaz muito desarrumado.
E o rapaz tinha a impressão de que não era feito para morar naquela casa.
Ali os relógios estavam sempre certos mas ele andava sempre atrasado.
Ele esquecia-se da bola na sala e dos livros no jardim. Ele deixava a caneta na cozinha, os sapatos no corredor; o relógio no lavatório. Porque jogava à bola na sala, lia no jardim, escrevia em toda a parte, despia-se no corredor e só se lembrava de tirar o relógio quando já estava dentro do banho.
Por isso todos ralhavam com ele e ele pensava:
- Esta casa é um tribunal.
Havia horas certas para tudo, leis, regras, lugares para pôr as coisas. (...) - reproduzido de Porto Editora.

Assim começou Sophia de Mello Breyner Andresen o conto intitulado Os Ciganos. Mas o conto permaneceu inacabado e inédito no espólio de Sophia até 2009. Até que o neto, Pedro Sousa Tavares, aceitou terminar o conto à sua maneira. Danuta Wojciechowska encarregou-se das ilustrações. O livro foi apresentado ontem na Livraria Bertrand-Chiado, em Lisboa.

Os Ciganos
Texto: Sophia de Mello Breyner Andresen e Pedro Sousa Tavares
Ilustração: Danuta Wojciechowska
Porto Editora
64 págs., 18,80 euros

Os Ciganos de Sophia de Mello Breyner