quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Alves Redol, a Vida e a Obra

Alves Redol e Manuel da Fonseca - Medalhas de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores

Exposição Fernando Pessoa. Plural como o Universo.

Exposição Fernando Pessoa, Plural como o Universo, na Gulbenkian

A exposição Fernando Pessoa, Plural como o Universo, resultado da  colaboração entre a Fundação Roberto Marinho (Brasil), o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo e a  Fundação Gulbenkian, e apresentada no Brasil em 2010 e 2011, está, agora, patente na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) até ao dia 29 de Abril. De carácter multimédia, a exposição sobre  Pessoa e os seus heterónimos,  pretende mostrar toda a multiplicidade da obra do grande poeta de língua portuguesa, conduzindo o visitante numa viagem sensorial pelo universo de Pessoa, para que leia, veja, sinta e ouça a materialidade das suas palavras.

A FCG organiza visitas e atividades de descoberta da exposição para alunos de todos os ciclos de ensino, sujeitas a marcação prévia.

Leia mais aqui.

As Mesas de Debate do Correntes de Escrita 2012



Os escritores partilham com o público as suas ideias e as suas histórias. Nas Mesas de Debate, centenas de pessoas, acomodadas nas cadeiras, nas escadas, no chão ou mesmo em pé, partilham emoções com os intervenientes.
Estas são as Mesas de Debate que a organização tem para lhe propor nesta edição:  

1ª Mesa: “A Escrita é um risco total”
2ª Mesa: “O fim da arte superior é libertar”
3ª Mesa: A Poesia é o resultado de uma perfeita economia das palavras
4ª Mesa: Toda a literatura é pura especulação
5ª Mesa: A escrita é um investimento inesgotável no prazer
6ª Mesa: Da crise da escrita não se pode fugir
7ª Mesa: “As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento”
8ª Mesa: Traços de crise enriquecem o texto literário (Correntes d’Escritas em Lisboa)

Correntes de Escrita 2012



Póvoa de Varzim, 31.01.2012 - No passado dia 2 de Fevereiro, na Póvoa de Varzim, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, fez a apresentação da 13ª edição do Correntes d’Escritas.

Aqui fica o texto que vale a pena ler.
Aqueles que já vivenciaram as possibilidades do Correntes d’Escritas – encontrar os seus escritores preferidos, falar com eles, ouvi-los nas mesas de debate, conhecer novos autores e os seus trabalhos, entre tantas outras oportunidades que o Encontro oferece – despedem-se sempre com saudade, contando os meses e os dias até ao Encontro seguinte. E ele aí está, na sua 13ª edição, de 23 a 25 de Fevereiro.
Tudo começará com o anúncio dos vencedores dos quatro prémios literários, na Sessão de Abertura, dia 23, às 11h00, no Casino da Póvoa. Conhecer o escritor e a obra vencedoras do Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de vinte mil euros, é um dos momentos mais esperados do Correntes d’Escritas. Da lista de mais de 200 livros, o júri, constituído por Ana Paula Tavares, Fernando Pinto do Amaral, José António Gomes, Patrícia Reis e Pedro Mexia, escolheu estes livros como finalistas: A Cidade de Ulisses, Teolinda Gersão, Sextante; As Luzes de Leonor, Maria Teresa Horta, Dom Quixote; Adoecer, Hélia Correia, Relógio D’Água; Bufo e Spallanzan, Rubem Fonseca, Sextante; Do Longe e do Perto - Quase Diário, Yvette Centeno, Sextante; Dublinesca, Enrique Vila-Matas, Teorema; O Homem que Gostava de Cães, Leonardo Padura, Porto Editora; Os Íntimos, Inês Pedrosa, Dom Quixote; Tiago Veiga – Uma Biografia, Mário Cláudio, Dom Quixote. Na Sessão de Abertura serão anunciados, também, o Prémio Correntes d’Escritas/Papelaria Locus, o Prémio Correntes d’Escritas/Fundação Dr. Luís Rainha e o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora e lançada a Revista Correntes d’Escritas 11, totalmente dedicada a Eduardo Lourenço. Do Casino da Póvoa o Encontro segue para o Auditório Municipal onde, às 15h00, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, irá proferir a Conferência de Abertura.
Mesas de debate, sessões de poesia, lançamentos de livros, entre muitos outros momentos imperdíveis, prosseguirão até dia 25, com a participação de mais de 50 escritores.
Acompanhe todo o evento no Portal Municipal, aqui.

Alguns livros de António Mega Ferreira




António Mega Ferreira nas Quintas da Leitura

Frequentou o Liceu Normal de Pedro Nunes, licenciou-se em Direito, pela Universidade de Lisboa, e estudou Comunicação Social, na Universidade de Manchester. Estreou-se no jornalismo em 1968, como redactor do Comércio do Funchal, passando depois pelo Jornal Novo, Expresso e O Jornal. Foi chefe de redacção do Jornal de Letras e da RTP2.Foi colunista do Expresso, Diário Económico, Diário de Notícias, O Independente, Público e das revistas Visão e Egoísta. Integrou a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos, tendo dirigido a candidatura de Lisboa à Exposição Mundial de 1998, de que foi comissário executivo. Foi presidente do Conselho de Administração da Parque Expo, de 1999 a 2002. Dirigiu a representação de Portugal na Feira do Livro de Frankfurt, em 1997.Foi presidente do Conselho de Administração da Fundação Centro Cultural de Belém entre 2006 e 2011.Autor de vários livros, iniciou a sua carreira literária em 1984, tendo publicado obras de ficção, poesia e ensaio.
Leia aqui uma das suas últimas entrevistas ao I, em que Mega Ferreira fala do estado da cultura em Portugal.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sou Cidadão, uma iniciativa da Câmara Municipal da Figueira da Foz


Porque a Câmara Municipal  da Figueira da Foz quer promover a participação dos jovens na sociedade, convida-te a apresentar ideias e soluções para a valorização dos aspetos ambientais e culturais do concelho.
Apresenta-nos a tua proposta entre 15 de março e 11 de abril. A participação é individual e só podes entregar uma única proposta de uma das seguintes áreas temáticas: Cultura ou Ambiente. A proposta com a ideia tem de obedecer a vários requisitos, nomeadamente: Ser original e da tua autoria; Incidir, apenas, na intervenção em espaços públicos; Ser redigida em formato digital, num máximo de 2 páginas. Pode ser acompanhada por um dos seguintes suportes: a) Trabalho em Artes Plásticas (desenho, pintura, maqueta, escultura, etc.) b) Fotografias c) Vídeo ou multimédia; O invólucro da proposta deverá conter uma identificação de fantasia (um pseudónimo, um símbolo) um carimbo da tua Escola e um envelope contendo o teu nome, a morada, o telefone e o e-mail. Deve mencionar o programa “SOU CIDADÃO”, ser entregue fechado no Serviço de Atendimento ao Munícipe do edifício da Câmara Municipal, ou enviado. Será atribuído prémio à melhor proposta de cada uma das áreas – Cultura e Ambiente. O candidato vencedor por cada área receberá um diploma certificativo e um cartão de livre entrada em todos os espetáculos e exposições que se realizem no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, entre junho e dezembro de 2012. Se pretender, pode acompanhar o Vereador do Executivo Camarário com as atribuições das áreas da Cultura e do Ambiente, em toda a sua atividade profissional, em 2 períodos de dia entre 23 e 27 de abril, nomeadamente durante a cerimónia de Comemoração do 25 de abril.

Iniciativas da Divisão de Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz




Álvaro Laborinho. O MAR DA NAZARÉ                                       
  Uma mostra da colecção do Museu Dr. Joaquim Manso, da Nazaré

Esta exposição corresponde a uma pequena selecção do valioso espólio fotográfico de Álvaro Laborinho, oferecido ao Museu Dr. Joaquim Manso pelo seu filho, Dr. Álvaro Brilhante Laborinho, em 1980. Álvaro Laborinho (1879-1970), filho de pescadores, nasceu na Nazaré. Entre os seus múltiplos interesses e activa participação na vida associativa e política local, foi à fotografia que Álvaro Laborinho mais se dedicou. Através da sua câmara surge o registo completo da Nazaré da primeira metade do século XX.Este arquivo fotográfico, de quase dois milhares de negativos, constitui material imprescindível para o estudo de múltiplos aspectos do quotidiano das gentes da Nazaré: a vida social, as cenas de trabalho, os vários tipos de embarcações, as artes de pesca, o traje de trabalho e de festa, feminino e masculino, o vestuário de diferentes estratos sociais dos visitantes e dos banhistas.O conjunto revela-nos o apurado sentido de observação de Álvaro Laborinho e valida a sua referência na história da fotografia portuguesa.  Núcleo Museológico do Mar, de 10 de fevereiro a 30 de março de 2012.



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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

É Urgente o Amor de Eugénio de Andrade

Cântico de Amor de Miguel Torga

As sem-razões do amor de Carlos Drummond de Andrade

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Amei-te e por te amar de Fernando Pessoa

Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
E que eu te conheci...
Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante...
Eras o Universo...
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.
Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via...
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu
Não sei o que eras.
Creio Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar.
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora.
Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Nem sequer te memoro
Como te tive a amar.
Nem foste um sonho meu.
Porque te choro eu?
Não sei.. Perdi-te, e és hoje
Real no mundo real.
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si próprio e é tão triste
O que vejo que existe.
Em que espaço fictício,
Em que tempo parado
Foste o cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto..
E tuas mãos, contudo,
Sinto nas minhas mãos,
Nosso olhar fixo e mudo
Quantos momentos vãos
P'ra além de nós viveu
Nem nosso, teu ou meu...
Quantas vezes sentimos
Alma nosso contacto
Quantas vezes seguimos
Pelo caminho abstracto
Que vai entre alma e alma...
Horas de inquieta calma!
E hoje pergunto em mim
Quem foi que amei, beijei
Com quem perdi o fim
Aos sonhos que sonhei...
Procuro-te e nem vejo
O meu próprio desejo...
Que foi real em nós?
Que houve em nós de sonho?
De que Nós fomos de que voz
O duplo eco risonho
Que unidade tivemos?
O que foi que perdemos?
Nós não sonhámos.
Eras Real e eu era real.
Tuas mãos — tão sinceras...
Meu gesto — tão leal...
Tu e eu lado a lado...
Isto... e isto acabado...
Como houve em nós amor
E deixou de o haver?
Sei que hoje é vaga dor
O que era então prazer...
Mas não sei que passou
Por nós e acordou...
Amámo-nos deveras?
Amamo-nos ainda?
Se penso vejo que eras
A mesma que és... E finda
Tudo o que foi o amor;
Assim quase sem dor.
Sem dor.. Um pasmo vago
De ter havido amar.
Quase que me embriago
De mal poder pensar.
O que mudou e onde?
O que é que em nós se esconde?
Talvez sintas como eu
E não saibas senti-lo.
Ser é ser nosso véu
Amar é encobri-lo,
Hoje que te deixei
É que sei que te amei...
Somos a nossa bruma...
É para dentro que vemos...
Caem-nos uma a uma
As compreensões que temos
E ficamos no frio
Do Universo vazio...
Que importa? Se o que foi
Entre nós foi amor,
Se por te amar me dói
Já não te amar, e a dor
Tem um íntimo sentido,
Nada será perdido...
E além de nós, no Agora
Que não nos tem por véus
Viveremos a Hora
Virados para Deus
E num mudo
Compreenderemos tudo.
In Poesia 1902-1917 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 20

Romeo and Juliet The love of a life time

Rita Moreno & West Side Story Cast - America (Original Stereo)

West Side Story - I feel pretty - 1961

A Invenção do Amor de Daniel Filipe

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
           janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-
           relhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
           nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
                                                              quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e
fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
           fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da
            defesa passiva
Todos  Decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas  Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inex-
           plicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem
           razão
Aplicado no entanto  Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicó-
           logos
Ainda bem que se revelou a tempo  Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da
           cidade
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das
           normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

Procurem os guardas dos antigos universos concentracionários
precisamos da sua experiência onde quer que se escondam
           ao temor do castigo

Que todos estejam a  postos  Vigilância é a  palavra de ordem
Atenção  ao   homem   e  à   mulher   de  que   se   fala   nos  cartazes
À mais ligeira dúvida não hesitem  denunciem
Telefonem a polícia ao comissariado ao Governo Civil
não precisam de dar o nome e a morada
e garante-se que nenhuma perseguição será movida
nos casos em que a denúncia venha a verificar-se falsa

Organizem  em cada bairro em cada rua em cada prédio
comissões de  vigilância.  Está em  jogo a cidade
o país a civilização do ocidente
esse homem  e essa mulher  têm de ser presos
mesmo  que   para  isso tenhamos  de  recorrer  
às  medidas  mais drásticas
Por   decisão   governamental   estão    suspensas   as   liberdades
           individuais
a inviolabilidade do domicílio a habeas corpus o sigilo da
           correspondência
Em   qualquer   parte   da   cidade   um   homem   e   uma    mullher
           amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se   soluçam   baixo   e   enfrentam   a   hostilidade   nocturna
É preciso encontrá-los  É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas   defendam-se   de   entender    a   sua   voz   Alguém   que  os
           escutou
deixou  cair   as  armas e  mergulhou  nas  mãos o  rosto  banhado
           de lágrimas
E quando foi  interrogado em   Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o  faziam feliz
Lhe lembravam a  infância Campos verdes floridos
Água simples correndo    A brisa nas montanhas
Foi  condenado  à  morte  é  evidente    É   preciso   evitar   um   mal
           maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi   necessário  amordaçá-lo  e  mesmo  assim  desprendia-se  dele
um  misterioso  halo de uma felicidade incorrupta
Impõe-se  sistematizar  as  buscas   Não  vale  a   pena   procurá-los
nos  campos  de futebol  no  silêncio  das  igrejas  nas  boîtes  com
           orquestra privativa
Não   estarão   nunca   tu    Procurem-nos   nas   ruas   suburbanas
           onde nada acontece

A  identificação é fácil     Onde   estiverem estará também pou-
           sado sobre a porta
um  pássaro desconhecido e admirável
ou   florirá   na   soleira  a   mancha  vegetal   de   uma   flor   luminosa
Será   então aí  Engatilhem   as   armas invadam   a   casa disparem
           à queima roupa
Um tiro  no coração de cada um  Vê-los-ão  possivelmente
dissolver-se no ar    Mas estará completo o esconjuro
e    podereis    voltar    alegremente    para   junto   dos filhos  da
           mulher
Mas ai  de vos  se sentirdes de súbito o  desejo  de deixar correr
           o pranto
Quer   dizer   que    fostes   contagiados     Que   estais    também   per-
           didos para nós
É  preciso   nesse  caso   ler   coragem   para   desfechar   na    fronte
           o tiro indispensável
Não há outra saída     A cidade o exige

Se  um  homem de repente interromper as pesquisas
e perguntar  quem  é e o que faz ali de armas na  mão
já sabeis   o   que   tendes   a   fazer   Matai-o Amigo    irmão   que   seja
matai-o    Mesmo  que   tenha   comido   á    vossa   mesa   crescido a
           vosso lado
matai-o    Talvez que ao enquadrá-lo na mira da espingarda
os seus olhos vos fitem com  sobre-humana náusea
e deslizem depois numa tristeza líquida
até ao fim da noite Evitai o apelo a prece derradeira
um só golpe mortal misericordioso basta
para  impor o silêncio secreto e inviolável
Procuram a mulher o homem que num bar
de  hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for   preciso estabeleçam  barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à  Imprensa tribunais  de excepção
Para bem da cidade do pais da cultura
é preciso encontrar   o casal  fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
una voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
No inquérito oficial atónito afirmou
que o homem e a mulher tinham estrelas na fronte
e caminhavam envoltos numa cortina de música
com gestos naturais alheios   Crê-se
que situação vai atingir o climax
e a policia poderá cumprir o seu  dever

Um homem  uma mulher  um cartaz de denúncia
A  voz do locutor  definitiva nítida
Manchettes cor de sangue no rosto dos jornais
É  PRECISO ENCONTRÁ-LOS
ANTES QUE SEJA   TARDE
Já não basta o silêncio a espera conivente o medo inexplicado
a vida igual a sempre  conversas de negócio
esperanças de emprego contrabando de drogas aluguer de
automóveis
Já não basta ficar frente ao copo vazio no café povoado
ou marinheiro em  letra afogar a distância
no corpo sem mistério da prostituta anónima
Algures no labirinto da cidade um homem e uma mulher
amam-se espreitam a rua pelo intervalo das persianas
constroem com urgência o universo do amor
E é preciso encontrá-los    E  é preciso encontrá-los
Importa perguntar em que rua se escondem
em que lugar oculto permanecem resistem
sonham meses futuros continentes à espera

Em que sombra se apagam em que suave e cúmplice
abrigo fraternal deixam correr   o tempo
de sentidos cerrados ao estrépito das armas
Que mãos desconhecidas apertam as suas
no silêncio do pressago da cidade inimiga

Onde quer que desfraldem o cântico sereno
rasgam densos limites entre  o dia e a noite
E é preciso ir mais longe
destruir  para sempre o pecado da infância
erguer   muros de  prisão em círculos fechados
impor a violência a tirania  o ódio
Enquanto das esquinas escorre em letras enormes
a denúncia total do homem da mulher
que no bar em penumbra numa tarde de chuva
inventaram o amor com carácter de urgência
COMUNICADO GOVERNAMENTAL À IMPRENSA 
Por diversas razões sabe-se que não deixaram a cidade
o nosso sistema policial é óptimo estão vigiadas todas as
           saídas
encerramos  o aeroporto patrulhamos os cais
há inspectores disfarçados em todas as gares de caminhos de
           ferro

É  na cidade que é preciso procurá-los
incansavelmente sem desfalecimentos
Uma tarefa para um milhão de habitantes
todos  são  necessários
todos são necessários
Não se preocupem com os gastos a Assembleia votou um
           crédito  especial
e o ministro das Finanças
tem já prontas as bases de um novo impulso de Salvação
           Pública
Depois das seis da  tarde é proibido circular
Avisa-se a população de que as  forças da ordem
atirarão sem prevenir sobre quem quer que seja
depois daquela hora   Esta madrugada por   exemplo
uma patrulha da Guarda matou no Cais da Areia
um marinheiro grego que regressava ao seu navio
Quando chegaram junto dele acenou aos soldados
disse qualquer  coisa em  voz baixa e fechou os olhos e morreu
Tinha trinta anos e uma família à espera numa aldeia do
 Peloponeso
O cônsul  tomou conhecimento da ocorrência e aceitou as des¬-
 culpas do Governo pelo engano comendo
Afinal tratava-se apenas de um  marinheiro qualquer
Todos compreenderam que não era caso para um protesto
 diplomático
e depois o homem e a  mulher  que a policia  procura
representam  um perigo  para nós e para a Grécia
para todos os países do hemisfério ocidental
Valem  bem o sacrifício de um marinheiro anónimo
que regressava ao seu  navio depois da  hora estabelecida
sujo insignificante e porventura bêbado

SEGUE-SE UM PROGRAMA DE MÚSICA DE DANÇA

Divirtam-se atordoem-se mas não esqueçam o homem e a
           mulher escondidos em qualquer  parte da cidade
Repete-se é indispensável encontrá-los
Um grupo de cidadãos de relevo ofereceu  uma importante
           recompensa
destinada a quem  prestar   informações que levem à captura
           do casal  fugitivo
Apela-se para o civismo de iodos os habitantes
A questão está posta    É preciso resolvê-la
para que a vida reentre na normalidade habitual

Investigamos nos arquivos     Nada consta
Era um homem  como qualquer   outro
com  um emprego de trinta e oito  horas semanais
cinema aos sábados à noite
           domingos sem  programa
e gosto pelos livros de ficção científica
Os vizinhos nunca notaram  nada de especial
vinha cedo para casa
não linha televisão
Deitava-se sobre a cama logo após o jantar
e adormecia sem esforço
Não voltou ao emprego o quarto está  fechado
Deixou em meio as «Crónicas Marcianas»
perdeu-se precipitadamente no labirinto da cidade
à saída do hotel numa tarde de chuva
O pouco que se sabe da mulher autoriza-nos a crer
que se trata de uma rapariga até aqui vulgar   
Nenhum sinal característico nenhum hábito digno  nota
Gostava dos gatos dizem   Mas  mesmo  isso  não é certo
Trabalhava numa fábrica de têxteis como secretária da
           gerência
era bem paga e tinha semana  inglesa
passava as férias na Costa da Caparica
Ninguém lhe conhecia uma aventura
Em quatro anos de emprego só faltou uma vez
quando o pai sofreu um colapso cardíaco
Não pedia empréstimos na Caixa Usava saia e blusa
e um  impermeável vermelho no dia em que desapareceu

Esperam por  ela em  casa duas cartas de amigas
o último  número de uma revista de modas
a boneca espanhola que lhe deram aos sete anos

Ficou  provado que não se conheciam
Encontraram-se ocasionalmente num bar de hotel numa
            tarde de chuva
sorriram inventaram o amor com carácter de urgência
mergulharam cantando no coração da cidade

Importa descobri-los onde quer que se escondam
antes que seja demasiado tarde
e o amor como  um rio  inunde as alamedas
praças becos calcadas    quebrando nas esquinas

Já não podem escapar    Foi tudo calculado
com rigores matemáticos   Estabeleceu-se o cerco
A polícia e o exército estão a postos Prevê-se
para breve a captura do casal  fugitivo

Mas um grito de esperança inconsequente vem
do  fundo da noite envolver a cidade
au bout du chagrin une fenêtre ouverte
une fenêtre eclairée)

in A Invenção do Amor e Outros Poemas, Presença, 1994

A Dama e o Vagabundo

Amor é fogo que arde sem se ver

Portal do Leitor

Quintas da Leitura no Ler Mais Ler Melhor

Dia Mundial da Rádio





Imagem retirada do blogue da Antena 3

Celebrou-se, ontem, pela primeira vez, o Dia Mundial da Rádio, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
No dia 19 de Outubro de 2011, com base numa proposta apresentada pela Academia Espanhola de Rádio, o Conselho Executivo da UNESCO declarou oficialmente o dia 13 de Fevereiro como Dia Mundial da Rádio, data da criação, em 1946, da Rádio das Nações Unidas.
A efeméride tem como objectivo consciencializar o público e os meios de comunicação acerca da importância da rádio, alertar para a criação e acesso à informação, bem como melhorar a cooperação internacional entre os organismos de rádio-difusão.
Chamar a atenção sobre o valor único da rádio, que tem sido o maior meio para atingir uma audiência mais ampla, faz igualmente parte dos objectivos da efeméride.
Para a institucionalização da data, a UNESCO deu início, em Junho de 2011, a um processo de consultas dirigido aos interessados, quer dizer as associações de meios de radiodifusão, as emissoras públicas, estatais, privadas, comunitárias e internacionais, fundos e programas das Nações Unidas, bem como Delegações Permanentes e Comissões Nacionais da UNESCO para a institucionalização da data.
O impulsionador do projecto, a Academia Espanhola de Rádio, recebeu mais de 46 cartas de apoio de distintos interessadas, tais como: a União da Rádio-difusão dos Estados Árabes (ASBU), a União da Rádio-difusão para Ásia e Pacífico (ABU), a União de Rádio-difusão das Caraíbas (CBU), a União Europeia da Rádio-difusão (UER), a Associação Internacional da Rádio-difusão (AIR), a "North American Broadcasters Association" (NABA), a Organização de Telecomunicações Iberoamericanas (OTI), a BBC, a Universidade Internacional da Rádio e Televisão (URTI), a Rádio Vaticano e outras.
Segundo a UNESCO, há que considerar a rádio como um meio de comunicação de baixo custo, especialmente apropriado para chegar às comunidades longínquas e às pessoas vulneráveis, como os analfabetos, deficientes físicos, mulheres e jovens.
“A rádio é um meio de comunicação de massa, mais prevalente no mundo, com capacidade de atingir 95 porcento da população do planeta”.
Os serviços radiofónicos, diz a UNESCO, têm registado mudanças no contexto actual de convergência dos meios de comunicação e adoptam novas formas tecnológicas, como a banda larga, os telefones celulares e os quadros electrónicos. Mas, hoje em dia, cerca de mil milhões de pessoas não têm ainda acesso à rádio. 
Por ocasião da data, a UNESCO apela a todos os países a celebrar este dia, realizando actividades com os diversos sócios, tais como organismos e associações de rádio-difusões nacionais, regionais e internacionais, organizações não governamentais, organizações de meios de comunicações, bem como o público em geral.
informação retirada do sítio da Agência Angola Press

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Cerimónia pública de entrega de prémios de leitura e de escrita na biblioteca escolar

Foi num ambiente infornal que decorreu, ontem, na biblioteca escolar, a entrega de prémios aos alunos com melhor desempenho no Concurso de Natal, na Prova de Escola do Concurso Nacioanl de Leitura e na frequência de livros lidos na biblioteca escolar.
Os pais e encarregados  de educação, assim como os Directores de Turma, acorreram  ao convite dirigido pelo Grupo Disciplinar de Língua Portuguesa e pela biblioteca escolar e tornaram possível, com a sua presença e entusiamo, uma cerimónia alegre e animada.
A boa disposição era evidente entre todos e as palavras que se ouviram, no acolhimento aos convidados presentes, pretenderam saudar o êxito dos alunos premiados e estimular a prestação e desempenho dos restantes alunos da escola nos domínios da leitura e da escrita. Algo que só poderá acontecer com a colaboração dos pais e dos professores e, naturalmente, com o empenho e dedicação dos alunos. 
Um momento a repetir em ocasiões futuras...!

            Os prémios entregues na cerimónia foram patrocinados pela Raiz Editora e pela Plátano Editora.