quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Leitura do livro "Mistérios" de Matilde Rosa Araújo nas Sessões de Leitura na Biblioteca




 Iniciámos, na semana passada, nas sessões com o 4º ano, a leitura do livro “Mistérios” de Matilde Rosa Araújo. Um título que cria no leitor a expectativa de aventura, que rapidamente se esvanece  após a leitura dos vinte e dois poemas que o constituem. O leitor apercebe-se de que os Mistérios  sobre os quais a poetisa fala não são mais do que a beleza dos momentos simples da vida, postos a nu ora num cenário naturalista ora num contexto familiar ou intimista. Exemplo disso é o poema que dá título ao livro “Mistérios”, em que o protagonista, um pescador, após a faina do mar, regressa a casa pela manhã com uma rede cheia de peixes que pescara na noite e a poetisa mostra com a sua fina sensibilidade que, enquanto o pescador regressa com a rede cheia de peixes, “as estrelas do céu dormiam presas na luz da manhã” e, que, “quem come um peixe não se apercebe destes mistérios”. Ou seja, a poetisa evidencia a sintonia poética existente entre o trabalho do pescador e a beleza do amanhecer. Uma forma criativa e delicada de estabelecer a complementaridade entre o universo humano e o universo natural que, em conjunto, assumem uma beleza extraordinária e que tantas vezes escapa à perceção de muitos.  
Mas, se neste poema, a figura principal é um pescador, em muitos outros a centralidade é protagonizada por crianças. É o caso de “Arco- Íris”, “A Laranja” e “Golo”, em que o universo doméstico e familiar surge como cenário de pequenas narrativas, em que a nota dominante é o enaltecer da beleza dos momentos simples da vida: o de um pai a ensinar à pequena filha as cores do arco-íris; o de uma menina a comer  devagarinho uma laranja que caiu da laranjeira, tão bela como uma flor de sol; o dos meninos que jogam à bola na rua com alegria e vivacidade, tanta que “os pés dos meninos/são pés de alegria e de vento”, “a baliza uma nuvem tonta” e,  mais importante do que a vitória ou a derrota dos meninos,  é poder contemplar a felicidade  que transparece dos seus olhos.
Um verdadeiro hino à vida e à felicidade das coisas simples, em cenários povoados de uma  grande proximidade  entre os animais - pássaros, formigas, pombas  e burros – e as crianças, a solicitar um tempo de disponibilidade para se viver o jardim da vida.
L.V.

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