quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A leitura na idade do armário

Em suma, o adolescente não fecha a porta para sempre. Precisa de espaço e autonomia, pelo que não o podemos sufocar com a nossa prestável ajuda, como fazemos com as crianças. Temos também de perceber que está a construir o seu mundo a partir de estímulos diversos e simultâneos. Um livro adorado hoje será odiado amanhã, ou talvez não. E muito provavelmente um livro impenetrável hoje será legível amanhã. Para lermos com sucesso, temos de relacionar em permanência o que lemos com o nosso conhecimento prévio. Muitas vezes não damos por isso, mas sempre que lemos estabelecemos ligações. Por isso empatizamos com personagens, situações, descrições, ousentimos tristeza, nostalgia, medo, alegria, solidariedade, revolta. Se o livro estiver noutro hemisfério, para nós totalmente desconhecido, não o conseguimos ler. Pensando nos adolescentes e na instabilidade do seu desenvolvimento, a probabilidade de isto acontecer é muito maior. E é natural que assim seja.

A Promoção faz-se tentando e errando sempre. Muitos frutos não se vêem no imediato, não podemos cair na tentação de verificar se fizemos tudo bem, se o fizermos estamos a controlar a liberdade do outro e deitamos todo o trabalho por terra. Não há fórmulas milagrosas, há caminhos. Alguns não leitores nunca se tornam leitores, e têm esse direito. Muitos tornar-se-ão leitores selectivos, quando chegarem à idade adulta. É um mistério e uma maratona, necessariamente altruísta

( Andreia Brites, entusiasta promotora da leitura e blogue do Bicho dos Livros. Ler tudo, mas tudo mesmo, aqui.)

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